domingo, 13 de maio de 2018

Vida que segue

Eu sumi deste espaço aqui.

Fui atropelada pela rotina nova. Casa nova, escola nova para a dupla, novo horário de trabalho para mim.

Nocauteada pela terapia. Fazer terapia é um ato de coragem. Permanecer na terapia é um ato de resistência. A vontade de me conhecer profundamente faz com que meu mergulho interior às vezes me afogue. Parte do processo.

Mas estou aqui. Ensaiando uma volta. Tímida volta. Mas é uma volta!

Amor e luz!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Meus companheiros de aventura!

Em 2017 foram muitos km rodados juntos, só nós três, para encontrarmos com o papai e voltarmos a ser quatro.
Tivemos pneu furado, estrada fechada no meio do caminho, chuva, chave de casa esquecida, celular perdido e até ajuda da Polícia Rodoviária. Por outro lado tivemos risadas, briga no carro e reconciliação, cumplicidade e conhecemos lugares diferentes e pessoas diferentes.
Bernardo aprendeu que mulheres são tão capazes quanto homens e dirigem na estrada também.
Clarice aprendeu que mulheres são tão capazes quanto homens e dirigem na estrada também.
Eu aprendi que mulheres são tão capazes quanto homens e dirigem na estrada também.
E você, o que aprendeu em 2017?


Foto: Dezembro/2017, em Resende Costa/MG, dentro da casa de uma artesã.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Escrita terapêutica

Muitas vezes eu me pergunto o porquê da escrita. Quando eu dou um sumidão assim do blog, é porque estou em um desses momentos de reflexão.

O que eu quero quando escrevo? Fama? Dinheiro? Troco likes? Até hoje nem um desses aconteceu e segue o baile normalmente.

Pensando na escrita, fui fazer aquele tchibum interior, fui ler, fui pesquisar, enfim, se eu não entendo uma coisa, ela perde o sentido para mim. E se não faz sentido, não tem continuação. E se eu não entendo dentro de mim, o efeito é o mesmo.

A escrita faz muito sentido para mim. É terapêutica. Quando escrevo, estou conversando comigo mesma em primeiro lugar, organizando ideias e sentimentos. E me livrando de alguns lixos emocionais. E me aproximando de quem sou, cá dentro. E me livrando de ser quem os outros querem que eu seja, lá fora.

Em tempos de tanta exposição pessoal e visual, penso que escrever seja um ato de resistência. Em tempos de postar uma foto com uma frase de efeito, escrever e convidar à reflexão parece uma loucura. E é aí que eu me encontro.

Há tempos ando incomodada com a minha relação com as redes sociais. Quando vou postar alguma coisa, começa lá no fundo um zumbido no ouvido: você está postando o quê e para quem mesmo? Quer mostrar o que ao mundo? Aí, instintivamente, eu levo essa pergunta para minha time line e começo a me perguntar: postastes o quê e para quem, ó filho de Deus? E a guerra mental está deflagrada. Não me preocupo com a vida vazia e imagética das pessoas. Preocupo-me em não chegar lá. Em não ter que fazer live do show do meu cantor preferido e perder a emoção do momento enquanto acho o melhor ângulo para mostrar o palco e minha cara ao mesmo tempo ou postar foto do meu prato de comida, que esfria enquanto eu decido o melhor filtro. Porra. Desculpem o palavrão.

Aí eu volto a minha pergunta original: o que eu quero quando escrevo? A origem da escrita data de aproximadamente 4000 AC. Diferentes civilizações começaram o processo de escrita no intuito de se comunicar. Civilizações posteriores refinaram esse processo, acrescentando ou tirando símbolos, sempre no intuito de se comunicar. Aí eu acho o começo da minha resposta. Escrevo pare me comunicar. Para encontrar iguais. Para encontrar afins. Para organizar a mente. Alívio!

Continuarei escrevendo e fazendo desse instrumento minha voz no mundo. Agora te pergunto: qual a sua voz?

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Por Maria Luiza Pedrosa
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domingo, 5 de novembro de 2017

Thanatos, o Filho da Noite

Hoje é Dia de Finados. Dia dos Mortos. E eu tenho uma pergunta: você já falou sobre morte com os seus filhos?

Deixa eu quero dividir uma experiência diferente com vocês. Nas últimas férias de julho, fomos passar uma semana em São João del Rei, cidade histórica de MG que faz parte da Estrada Real e fica a 200 km de Belo Horizonte. Eu tenho uma filha de 8 anos e um filho de 5.

Fizemos todos os passeios tradicionais: Maria Fumaça, Centro Histórico, Tiradentes e Bichinho, comidas típicas e, por último, meus filhos me pediram para visitar um... cemitério. Isso mesmo, minha gente, um C-E-M-I-T-É-R-I-O. Eu jamais imaginaria que, em um belo dia da minha vida de mãe, eu levaria meus filhos para fazer um passeio em um lugar desse. Valeu Maurício de Souza! Valeu Turma do Penadinho!

Confesso que não me senti nem um pouco confortável, a princípio. Na Grécia Antiga, o nome de Thanatos, a Morte, era raramente pronunciado. Acreditava-se que era uma ideia desagradável e acordaria esse espírito, trazendo a destruição aos humanos. Como podemos ver, o tabu que envolve a morte é antigo... Fiquei pensando: e se a gente tratasse a morte com mais naturalidade? Afinal, ela é certa e evitar o assunto não faz com que ele não exista. E se a gente tratasse a morte com leveza? Afinal, a morte faz parte da vida. E se a gente falasse desde cedo sobre a morte, teríamos menos tabu com o assunto? Afinal, a qualquer momento ela pode chegar para qualquer um.

Organizei meus pensamentos e fui. Entrei no cemitério cheia de incertezas e com uma única certeza: empoderar meus filhos e dar a eles ferramentas que pudessem levar para a vida toda. Pisamos no cemitério e começou a chuva de perguntas:

- O que é esse asterisco e essa cruz?
- Ano de nascimento e morte.
- Ata. Nossa, esse aqui morreu bem velhinho, hein? E essa aqui também! OLHA MÃE! ESSE AQUI MORREU NO NATAL! ISSO PODE?
- Pode. A gente não escolhe o dia que vai morrer...
- Mãe, piorou: ESSE AQUI MORREU NO DIA DO PRÓPRIO ANIVERSÁRIO! PODE???
- Parece estranho filha, mas pode. A gente não escolhe o dia que vai morrer...
- Mãe, ô mãe... bebê também morre?
- Filho, morre sim. Infelizmente. É por isso que temos tanto cuidado com os bebezinhos! Eles são frágeis...
- Olha esse nome aqui mãe: parece de outro país!!! Você pode morrer fora do país que você nasceu?
- Pode... a gente não escolhe nem o dia e nem o lugar que vai morrer...

De repente, me dei conta da amplitude daquele passeio, das dúvidas que passam na cabecinha das crianças, nos assuntos que não tive a chance de perguntar para meus pais quando eu era pequena e em como eu tive que construir alguns conhecimentos de mundo sozinha. 

Quando nós chegamos a uma parte onde as lápides eram quadradinhos na parede o bicho pegou:

- Mãe, mas COMO cabe alguém aí?
- Bem... aí fica a caixa de ossos.
- Tipo, a gente se desmonta como um quebra-cabeça?
- Hum, hum. E é isso meus filhos.

Naquele momento, nada mais precisou ser dito. De repente minha filha segurou minha mão, meu filho me abraçou... e nós ficamos ali, apreciando a beleza da morte. A morte nos faz lembrar que ainda há muita vida a ser vivida. Até o fim. E a beleza da vida está aí, justamente na caminhada, no dia-a-dia, no beijo de bom dia, no cafuné para dormir, no almoço de domingo, no olhar que encontra apoio, no abraço que tem conforto... enfim, a beleza da vida não está naquilo que a gente junta e sim no amor que a gente espalha.

Depois dessa experiência, falamos sobre o Filho da Noite, Thanatos, com mais naturalidade, leveza e respeito aqui em casa.



Cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, São João del Rei - MG, Julho/2017



domingo, 1 de outubro de 2017

Eu, o tricô e minha mãe

A vida moderna anda caótica. Trânsito, horário, agenda cheia, trabalho e família, quem se identifica levanta a mão! Em meio a esse caos, eu descobri o tricô.
O tricô é uma grande metáfora da vida: você começa com um fiozinho, vai tecendo e dando rumo. Oras fica torto; você vai lá e desfaz o que deu errado e refaz com mais capricho para dar certo. Ou não. Deixa assim mesmo. Oras fica lindo, você pega o jeito e segue tecendo se sentindo no caminho correto.
Minha mãe me ensinou tricô quando eu era pequena. Durante muitos anos, eu deixei as agulhas de lado. No início deste ano, resolvi retomar e fazer um cachecol mara para usar no inverno. Escolhi a cor e o ponto que usaria.
Eu tecia um pouquinho por semana. Pouquinho mesmo. Esse era meu ritmo. Mas… para minha mãe o ritmo estava errado. O cachecol não ficaria pronto a tempo do inverno. O ponto estava frouxo. Ia ficar torto. Minha mãe estava realmente preocupada.
Volta à metáfora da vida: qual pai ou mãe não se preocupa com o rumo da vida dos filhos? Qual pai ou mãe não acha que SABE o caminho certo para os filhos? Qual pai ou mãe não (cof cof) intromete na vida dos filhos?
E foi assim comigo. Minha mãezinha meteu a mão no meu tricô. Um belo dia, cheguei em casa e o cachecol estava todinho pronto. Ela estava aliviada, afinal eu teria o bendito cachecol para usar no inverno, com um ponto firme e sem buracos. Minha mãe estava feliz. Eu não.
Sem perceber e, com muito amor no coração, minha mãe pegou para ela o fio da minha vida e tentou resolver o problema. O problema que era m-e-u. Para mim, o mais interessante era o processo de fazer o cachecol. Para ela, o mais interessante era ver o cachecol pronto.
E é aí que eu saio do papel de filha e volto para o papel de mãe: quantas vezes eu me preocupo, tenho certeza que sei a resposta e intrometo na vida dos meus filhos? Quantas vezes eu ofereço o produto e atropelo o processo? Eu sei respeitar o tricô dos meus filhos?
Eu fiz outro cachecol para mim. E ele passou a simbolizar muito mais do que um simples adorno: agora ele simboliza as minhas escolhas e o respeito que elas merecem. Ele simboliza as escolhas dos meus filhos. E o respeito que elas merecem. Cada um tem um caminho. Torto ou reto. Cada caminhada é única e a beleza está justamente na singularidade!
*Reflitamos*
Texto publicado na Revista Mommys. Link AQUI