quarta-feira, 31 de maio de 2017

Maio

É maio e é mês das mães. Assim dizem todas as propagandas em todos os lugares possíveis. Dê flores para sua mãe! Pacote especial de almoço! Renove o visual da sua mãe! Promoção imperdível para o Dia das Mães! E por aí vai... e vamos nós também, mães, sendo levadas pelo ofertório de um dia especial.

UM dia especial, foi isso mesmo que eu disse. É maio. E foi mês das mães. E nóis tá como? Cansada. Quem de nós não queria de presente uma noite bem dormida, uma refeição quente, merendas nutritivas magicamente prontas, unhas feitas, filme de adulto na Netflix e um banho beeeeeem longo? Pois é. Flores são bem-vindas e, muito além disso, um olhar diferenciado também é mais do que bem-vindo e bem quisto para o dia das mães.

Mãe é mãe todo dia, 24/7, sem dia de folga previsto por lei. A moeda do nosso salário se chama amor e todo mês, mais e mais amor é depositado na nossa conta. E a gente vai vivendo desse amor, gastando um tiquinho ou um tantão, dependendo da situação. Quando a "grana" vai ficando curta, um beijinho estalado, um olhinho brilhando, uma gracinha de nada, já enchem nossos bolsos novamente de amor e estamos prontas a distribuí-lo e retribuí-lo. A gente pega o cansaço, coloca em um baú, arregaça as mangas e segue em frente. Mas... chega um dia que a tampa do baú não fecha mais e o cansaço transborda. E o cansaço se mistura com amor e, olha que surpresa, essa mistura inevitavelmente se resulta em dor. E a gente fica bem ali, dividida, com vontade de chorar carregando uma culpa enorme. Justamente por estarmos divididas, a dor encontra uma brechinha, uma rachadura em nossa estrutura para entrar e tentar ficar. Aí é que está. Por que estamos rachadas? Por falta de flores, de um pacote especial de almoço, de um visual renovado ou de uma promoção imperdível de Dia das Mães?

A resposta a gente já sabe. Pense em uma parede. Antes da fenda aparecer, havia algo inteiro ali. Pensemos em nós então: como éramos antes da rachadura? Assim como na parede, a danada da fissura vai se fazendo aos poucos e quando nos damos conta, ela já atravessou de uma ponta a outra. É preciso estarmos atentas. É preciso ter o tal do olhar diferenciado. É preciso olhar para si mesma e reconhecer as próprias fortalezas e fraquezas e, assim, determinar quem você é e o que você realmente precisa para ser feliz. E a felicidade não se faz da noite para o dia, muito menos com uma data reservada e especificada. A felicidade vai se fazendo em horinhas de descuido, como já dizia Guimarães Rosa; a felicidade vai entrando de pouquinho em pouquinho e vai cicatrizando aquela fenda. Nessas horinhas de descuido, a noite bem dormida, a refeição quente, a merenda nutritiva pronta, a unha feita, o filme de adulto na Netflix e o banho bem longo podem fazer toda a diferença entre uma rachadura ou uma cicatrização.

É por isso que ao invés de querer desejar apenas um Feliz Dia das Mães, desejarei a todas vocês dias felizes com felicidades possíveis, fissuras cicatrizadas e alma renovada!

Malu Pedrosa

sábado, 13 de maio de 2017