domingo, 1 de outubro de 2017

Eu, o tricô e minha mãe

A vida moderna anda caótica. Trânsito, horário, agenda cheia, trabalho e família, quem se identifica levanta a mão! Em meio a esse caos, eu descobri o tricô.
O tricô é uma grande metáfora da vida: você começa com um fiozinho, vai tecendo e dando rumo. Oras fica torto; você vai lá e desfaz o que deu errado e refaz com mais capricho para dar certo. Ou não. Deixa assim mesmo. Oras fica lindo, você pega o jeito e segue tecendo se sentindo no caminho correto.
Minha mãe me ensinou tricô quando eu era pequena. Durante muitos anos, eu deixei as agulhas de lado. No início deste ano, resolvi retomar e fazer um cachecol mara para usar no inverno. Escolhi a cor e o ponto que usaria.
Eu tecia um pouquinho por semana. Pouquinho mesmo. Esse era meu ritmo. Mas… para minha mãe o ritmo estava errado. O cachecol não ficaria pronto a tempo do inverno. O ponto estava frouxo. Ia ficar torto. Minha mãe estava realmente preocupada.
Volta à metáfora da vida: qual pai ou mãe não se preocupa com o rumo da vida dos filhos? Qual pai ou mãe não acha que SABE o caminho certo para os filhos? Qual pai ou mãe não (cof cof) intromete na vida dos filhos?
E foi assim comigo. Minha mãezinha meteu a mão no meu tricô. Um belo dia, cheguei em casa e o cachecol estava todinho pronto. Ela estava aliviada, afinal eu teria o bendito cachecol para usar no inverno, com um ponto firme e sem buracos. Minha mãe estava feliz. Eu não.
Sem perceber e, com muito amor no coração, minha mãe pegou para ela o fio da minha vida e tentou resolver o problema. O problema que era m-e-u. Para mim, o mais interessante era o processo de fazer o cachecol. Para ela, o mais interessante era ver o cachecol pronto.
E é aí que eu saio do papel de filha e volto para o papel de mãe: quantas vezes eu me preocupo, tenho certeza que sei a resposta e intrometo na vida dos meus filhos? Quantas vezes eu ofereço o produto e atropelo o processo? Eu sei respeitar o tricô dos meus filhos?
Eu fiz outro cachecol para mim. E ele passou a simbolizar muito mais do que um simples adorno: agora ele simboliza as minhas escolhas e o respeito que elas merecem. Ele simboliza as escolhas dos meus filhos. E o respeito que elas merecem. Cada um tem um caminho. Torto ou reto. Cada caminhada é única e a beleza está justamente na singularidade!
*Reflitamos*
Texto publicado na Revista Mommys. Link AQUI