terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O meu nunca mais

Meu caçula gosta de pasta de dente de tutti-frutti. Minha mais velha gosta de pasta de dente de uva. E assim foi a necessaire para a praia: uma pasta de cada sabor, cada filho com a sua singularidade respeitada.

E eu? Espaço pequeno na mala, vai sem pasta mesmo e usa a das crianças. Lá pelo terceiro dia de praia, o gosto de uva com tutti-frutti deu lugar a outro gosto. Um gosto estranho, que não sentia há tempos: o gosto da individualidade.

Sério. Qual o tamanho que um creme dental com flúor ocupa na mala mesmo? Eu poderia ter levado no bolso da minha calça, se fosse o caso. E preferi não levar. Por que? Percebi que a questão era bem maior. Não era pela pasta de dente que eu estava incomodada. Era pelo tanto que aquela atitude dizia sobre mim.

Eu escolhi priorizar meus filhos até na pasta de dente.

Olhei para o espelho com a boca cheia de pasta, enquanto escrevia mentalmente este post, e me perguntei: qual a mensagem que eu passo para meus filhos escovando meus dentes com Tandy? Quase engasguei!

Uma mulher que escova os dentes por quase uma semana com Tandy não está muito boa da cabeça não. Vamos rir alto, porque é ridículo, I know it.

Este movimento de ser a protagonista, o ser de luz, a figura materna, a grande referência da vida de alguém é muito intenso. Como posso querer que meus filhos sejam pessoas seguras, decididas e bem resolvidas se, a protagonista, o ser de luz, a figura materna, a grande referência da vida deles, abdica de si mesma de tal forma? Cuspi rápido aquela pasta com gosto de bala, no dia seguinte comprei um creme dental de adulto para mim e finquei minha bandeira da individualidade dentro da necessaire de viagem. P#rr@! É um começo. Pequeno, mas já é alguma coisa

Pois é. Tudo isso por causa de uma paste de dente.

O amor incondicional tem que começar pela gente. Porque quem não se ama plenamente, não consegue oferecer o melhor de si plenamente. A gente oferece o amor incondicional e coloca condições... Quem nunca ouviu por aí: "eu abri mão do meu trabalho para criar vocês" ou "eu deixei de fazer uma faculdade para ficar com vocês"? Eu já ouvi. E não quero repetir essas frases para meus filhos. Se eu resolver abrir mão de alguma coisa na minha vida, será por mim em primeiro lugar. Sei que uma afirmação dessas parece egoísmo puro. E é amor, amor próprio puro! E quando você se enche de amor, fica mais fácil distribuí-lo incondicionalmente.

Pois é. Tudo isso por causa de uma paste de dente.

Fiquei com vontade de perguntar para todas as mães que eu via na rua: onde é que a sua individualidade se perdeu? Porém isso não tem resposta. Porque a individualidade se esvai aos poucos... assim como aquelas gramas que viram mil quilos a mais na balança. um tiquinho de cada vez que no final dá um tantão significável.

Pois é. Tudo isso por causa de uma paste de dente.

Preciso declarar: Tandy nunca mais. E você que me lê, qual é o seu nunca mais?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

De repente, mãe

De repente sua fruta favorita virou a outra metade da laranja que o seu filho não quis comer, sua roupa preferida aquela que te permite subir e descer, correr e pular, sentar e levantar sem pagar peitinho ou cofrinho e o programa de TV que você mais assiste é um algum desenho animado que mantenha seu filho entretido.

Aí você se pega escovando os dentes com creme dental infantil (ah, a minha acabou mesmo e depois eu compro outra) e escolhendo restaurantes não pela qualidade da comida mas sim pela qualidade da área kids. Sem falar na sua geladeira: iogurte, danoninho, yakult - mas cadê aquela cervejinha gelada? E tem também aquele palavrão gostoso que você xingava quando batia o mindinho em algum móvel da casa, agora substituído por um "ai, seu bobo"!

A bancada do banheiro, antes habitada por anti-sinais, anti-rugas, anti-stress, anti-tudo agora deu lugar a todo e qualquer tipo de pomada que prometa acabar com assaduras no menor espaço de tempo. E você já experimentou um pouquinho de todas e ainda compra mais uma outra, recomendada por uma amiga, que disse que a pomada foi milagrosa para o bebê dela.

É, você agora é mãe.
Sim, você passa por tudo isso.
E ama muito seu filho. Eu também amo muito os meus.

As pessoas dizem: "é assim mesmo, faz parte, agora você é mãe".  É como se você recebesse uma chave para entrar em um mundo novo e, com essa mesma chave, você trancasse para trás o seu mundo antigo. E a passagem por esta porta dói muito. E a gente não fala sobre isso. Pelo contrário, a gente posta fotos para provar (para nós mesmas) como somos felizes!

E nesse jogo do "agora você é mãe", nós vamos nos deixando para trás enquanto tentamos enfiar nosso verdadeiro EU em um molde de algum passo a passo de internet com pitadas montessorianas. E esse molde não nos cabe. E aí dói mais ainda. E a gente não fala sobre isso.

Ser mãe dói. Porque a mãe esquece que ela é gente. Vira super-herói, tipo aqueles de TV que salvam o dia e você nunca pára para pensar: mas ele dorme, come, faz xixi, tem fome e frio? Alguém, por acaso, já ouviu dizer que o Batman está com caganeira e não vai fazer nada em Gotham City aquele dia? Isso mesmo. A gente não fala sobre isso. E dói.

Mãe também é gente. É isso que eu preciso dizer e escancarar para o mundo: mãe tem preguiça, mãe tem ressaca, mãe tem tesão. Mãe, às vezes, quer sumir do mapa. Mãe, é mais um papel que a gente desempenha e que não anula todos os outros que já desempenhávamos antes. Porque quando os outros papéis são anulados, aí é que a dor fica crônica. E a maternidade fica pesada, cinza e mais dolorida do que o suportável.

Por isso, mães, uni-vos: cuide de você em primeiro lugar. Seja a sua prioridade. Escove os dentes com creme dental de adulto. Encha a cara de vez em quando. Escolha um restaurante por você e para você. Feche os olhos e lembre quem você é, acima de tudo. Seu filho vai agradecer pela mãe feliz, equilibrada e real que ele vai ter.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Volta às aulas, volta tudo de novo!

E, logo logo, as aulas voltam.

E as ruas ficam cheias, as filas ficam duplas e a paciência fica curta. Aí todas aquelas promessas de paz e amor do ano novo viram... promessas!

Mas como mudar essa roda vida da rotina casa-trabalho-escola-merenda-reunião-uniforme limpo-uniforme-sujo? Particularmente, eu não acredito que tenha jeito de mudar. Eu acredito que tenha jeito de adaptar.

Tem muita frase de impacto bonita espalhada por aí... muito "vá lá e mude sua vida agora"... Mas como, minha gente? Como? Se houvesse uma única receita de sucesso, essa valeria mais do que ouro. E é aí que eu me pego pensando, enquanto decido se faço brigadeiro ou pipoca para aliviar a tensão da rotina que já vai começar com a volta às aulas. Não há uma única fórmula do sucesso. Não há mesmo. O que é sucesso para mim, pode não ser sucesso para você. O que deu certo para mim, pode não dar certo para você.

Os antigos gregos já falavam: conhece a ti mesmo. E euzinha aqui, quem vos fala, acrescenta: conhece a tua família. Seus filhos são mais agitados pela manhã? Ou pela noite? Qual fruta não pode faltar em casa? Qual a melhor frequência para comprá-la fresca? Quem é o mais maleável da casa? E o mais rígido? O mais bagunceiro? O mais organizado? Se questione, entenda quem é sua família, pois ela é única. E como eu disse e repito, não há uma única fórmula do sucesso, cada família tem a sua.

De posse dos dados da sua pesquisa do IBGE, trace estratégias a seu favor. Faça as adaptações necessárias para uma convivência harmoniosa. Se meu filho é mais agitado, como acalmá-lo na hora de vestir o uniforme escolar? Se minha filha tem a personalidade mais rígida, será que na hora de entrar no carro para ir à escola é o melhor momento para abordá-la sobre mudanças na vida?

Conheça a sua família, não use comparações com outros lares, jogue a seu favor e observe sempre. Ops, será que passei alguma fórmula aqui? Brincadeiras à parte, quero desejar a todos, verdadeiramente, uma  feliz e tranquila volta às aulas, tanto para os pais como para os filhos!

*REPOST: Texto publicado na minha coluna mensal do blog BH for Kids. Link AQUI