domingo, 13 de agosto de 2017

Carta aberta: Dia dos Pais

Mãe,
Esta carta é para você. Preciso lhe falar ao coração.
Hoje, adulta, eu penso umas coisas cá comigo. Eu nunca senti o sabor da comida do meu pai. E acho que nem ele. Você sempre nos presenteou com os seus dons culinários e, sem querer, não deixou espaço para o papai cozinhar. Nem espaço para eu entender que homem também cozinha.
Eu não sei qual estilo de roupa meu pai achava que combinava comigo. E acho que nem ele. Você, sempre preocupada com o orçamento familiar, dava um jeitinho do dinheiro render e comprar várias peças de vestuário. Papai, também preocupado com o mesmo orçamento, trabalhava de sol a sol e deixava essas coisas para você. Essas coisas, que deveriam ser coisas de vocês dois.
Eu não sei como seria negociar minha primeira viagem sozinha com o meu pai. E acho que nem ele. Você, na ânsia de que tudo desse certo e ninguém saísse ferido, fazia a mediação para nós dois. Enquanto você pensava que construía uma ponte entre eu e meu pai, na verdade estava construindo um muro.
Mãezinha, sei que tudo isso foi por amor e o amor é a melhor linguagem para se ensinar alguma coisa. Mesmo que a coisa ensinada, saia meia torta. Homem cozinha sim, compra roupa para o filho sim e, principalmente, dialoga com a família.
Veja bem, aprendi. Mas aprendi do meu jeito: hoje, se o pai dos meus filhos der miojo na janta, vou fazer o quê? Respeitar. Hoje, se o pai dos meus filhos resolver vesti-los descoordenadamente em relação ao meu gosto, vou fazer o quê? Respeitar. Hoje, se os meus filhos precisarem conversar com o pai deles, vou fazer o quê? Abrir a porta para eles seguirem caminho. É assim que a gente constrói uma relação rica e saudável. É assim que o pai participa: tendo espaço para ser pai.
Por isso, mãe, te agradeço. Hoje sei qual relação desejo que meus filhos construam com o pai deles. E, que no domingo, a saudação “Feliz Dia dos Pais” realmente represente algo para eles.
*Texto meu originalmente publicado no blog da Revista Mommys. Link AQUI

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Cabeça-quebra no Quebra-cabeça

Toda vez que meus filhos ganham um quebra-cabeças, lá vou eu para o sofá observar e monitorar a brincadeira. É um tal de pecinhas que entram embaixo dos móveis, pecinhas que a nossa gata cisma em brincar e levar com ela, pecinhas que encaixam e desencaixam e, claro, mãozinhas a mil por hora.

Outro dia eu estava cumprindo meu papel de fiscal de pecinhas, quando me deparei com os dedos gordinhos e ansiosos do meu caçula a procurar o encaixe certo e, meu primeiro instinto, foi mostrar a ele a resposta. Já meu segundo instinto, foi me segurar. E, nessa hora, um mundo de coisas começou a passar na minha cabeça.

Dizem que o objetivo final do quebra-cabeça é unir peças adequadamente, de forma a compor uma imagem. Para mim, o objetivo vai muito além: ele está no processo. A tentativa e o erro é a parte mais bela do aprendizado. Você tenta aqui e não dá certo, tenta acolá e consegue, pára, respira, analisa as possibilidades, escolhe um caminho e vai.

E, se no lugar de quebra-cabeças, a gente colocasse a palavra... VIDA? Fiquei pensando em quantas vezes eu dei a solução aos meus filhos, ao invés de privilegiar o processo individual de busca a uma resposta. É bem mais fácil para mim dar a eles o caminho seguro, do que deixá-los descobrir um caminho próprio. É bem mais fácil gastar vinte minutos montando um quebra-cabeças com eles, do que deixar aquele brinquedo semi-montado no meio da minha sala por uma ou duas noites. Arregalei os olhos. Mas eu pensei que estava fazendo tudo tão certinho!

Foi por causa daquele quebra-cabeça no meio da sala que comecei a fazer esta reflexão. Quais são as ferramentas que eu estou ensinando aos meus filhos para enfrentar os próprios desafios? Qual o melhor caminho para prepará-los a ter responsabilidade pelas próprias escolhas? Como faz? Tem manual?

A voz deles me chamou à realidade:

- Mãããããe, onde vai essa peça aqui, ó? Eu não acho! Me ajuda?

O encaixe estava logo ali. Bastava só mais um tiquinho de observação. Ai meo deos, segura a minha mão porque quero criar filhos para o mundo:

- Tenta de novo, filho. Tente em outros lugares, tente de novo e de novo. Tenho certeza que você vai achar. Eu estou aqui.

*Suspiros*
Meu e dele.

E os dedinhos gordinhos continuaram e logo acharam um encaixe, e mais outro, e outro... e a imagem foi tomando forma no chão. E foi tomando forma na minha mente também. Não é sobre dar a resposta. É sobre dar o amor e o suporte necessários.
 
É por isso que, agora quando ouço a pergunta "onde coloco esta peça, mãe?", eu olho nos olhos e digo: vai tentando do seu jeito que uma hora você consegue. A mamãe vai estar sempre aqui te olhando.


Por Malu Pedrosa

*Texto meu publicado originalmente no Blog das Mommys. Link AQUI